É difícil encontrar alguém que ao escutar sobre “O Patinho Feio” não tenha tido algum tipo de identificação. Tem aqueles que se sentem como ele, excluídos e inadequados, existem os que acham que isso não passa de fraqueza ou complexo de inferioridade e sentem até mesmo uma certa raiva do patinho, há os cisnes que não gostam sequer de aventar a possibilidade de um dia terem sido uma figura desajeitada e diferente.
É importante perceber o que a história desperta em nós, pois isso pode nos trazer muito entendimento acerca de nossas camadas mais profundas. Quando alguma metáfora toca nosso coração, significa que existe ali alguma coisa que precisa ser olhada, algum sentimento que pode ter ficado escondido, mas que, apesar disso, direciona nossas atitudes e muitas vezes nos leva a lugares que não gostaríamos de estar.
O Patinho Feio já nasce diferente, em um ovo maior e que leva mais tempo para se quebrar, e o simples fato de fugir do padrão já causa preocupação. Ninguém quer sequer dar uma chance de conhecê-lo melhor, ou de entender como ele de fato é, porque a diferença assusta, e como forma de se proteger do desconhecido, adota-se uma postura reativa. Mesmo a mãe, que tem amor pelo filho, não sabe como lidar com o julgamento alheio e muitas vezes não consegue dar o suporte que o patinho precisa.
E assim ele se vê só, e chega à conclusão, para ele óbvia, de que é culpado por não ser digno de pertencer ao grupo. Não passa pela sua cabeça que eventualmente a limitação está nos demais que não conseguem lidar com as diferenças ou administrar sua insegurança. A rejeição é tão dolorida que ele prefere retirar-se. E vai tentando encontrar a sua turma sem sucesso, até que um dia consegue enxergar-se como realmente é. Só então ele acha seu lugar, no momento em que assume que não é um pato, é um cisne.
Quantas vezes ao longo da vida nos comportamos como cisnes que tentam se passar por patos para poder pertencer a um grupo. Existem também, é verdade, os patos que se disfarçam de cisnes para alimentar seu orgulho e obter alguma vantagem. Mas o patinho feio está por trás de muitos comportamentos equivocados que adotamos em nosso dia a dia.
Vários aspectos astrológicos em uma carta natal podem indicar que existe a tendência para a pessoa adotar a postura do patinho feio. Poderíamos falar de Saturno, mas eu percebo que são principalmente os planetas transpessoais, quando muito fortes no mapa, que levam a pessoa a se sentir rejeitada, excluída, diminuída, diferente.
Urano mostra o inusitado, excêntrico, a quebra do padrão, e pessoas uranianas não se encaixam. Muitas vezes estão com a mente muito a frente, na vanguarda, e não tem paciência para os outros, mas em algumas situações sofrem por isso, pois existe uma solidão que lhe é inerente, a solidão daquele que é diferente.
Netuno traz a carência e a sensação de que nunca sua necessidade de afeto está sendo preenchida, porque, no fundo, ele anseia a união com o Todo, e nenhuma relação humana pode satisfazer isso. Netuno carrega o sentimento de desamparo, a tendência de se colocar no papel da vítima.
Já Plutão traz cicatrizes profundas de rejeição, de abandono, possivelmente traição. É o planeta relacionado com situações abusivas, com o bullying, com os traumas.
Por isso quem tem esses planetas muito pronunciados no mapa natal, pode identificar-se em alguma medida com o patinho feio. Obviamente essa não é a única possibilidade de manifestação desses planetas, que também não impõem uma condenação ao nativo. É possível viver o aspecto de uma maneira mais elevada, e compreender aquilo que ele está tentando transmitir e ensinar.
E qual seria essa maneira?
Na fábula, o patinho só se reconhece como cisne quando vê seu reflexo na água, o que acontece depois que ele já cresceu. Isso é muito simbólico, pois é preciso amadurecer e encarar-se de frente para poder enxergar-se verdadeiramente. Enquanto se adota um comportamento infantil e inocente esses planetas não perdoam e impõem sua face mais difícil. Com os transpessoais é preciso ir além, perceber as sutilezas, aquilo que não se capta com facilidade. Transpessoais estão além de Saturno, além da forma, do concreto.
Plutão precisa descer às profundezas para encontrar a origem de seu trauma, perceber essa dor da exclusão que ele carrega, deixar a ferida exposta para que possa cicatrizar. Urano precisa usar a sua mente abstrata, intuição, para entender o que está além da lógica. Netuno precisa reconhecer que o amor que ele anseia está além da forma, além das possibilidades humanas.
Em qualquer caso, é necessário entender também que nem sempre, aliás quase nunca, é ruim ser diferente da grande maioria. É natural que quanto mais se refine a mente, os hábitos, dedique-se a práticas introspectivas e meditativas, menos companhia se tenha, já que essa não é a tônica da sociedade atual.
Quando a lição de casa é feita, o cisne pode aparecer, e não importa mais se ele está no meio de patos, de outros cisnes, ou sozinho. Ele é dono de si, nem melhor, nem pior, apenas ele mesmo. A sua imponência não vem da sua forma maior ou da aparência mais bonita, mas do fato dele estar na sua verdade.
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