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  • Foto do escritorCecilia Leite

O Rato do Campo e o Rato da Cidade




A fábula conta sobre uma família de ratos, onde todos viviam na cidade, e apenas o avô continuava a morar no campo. Lá ele tinha uma vida tranquila, ar puro e não faltava comida boa. Um dia, um de seus netinhos o convidou para sua festa de aniversário que aconteceria lá na cidade. Bastante relutante e contra a sua vontade, acabou cedendo para que a família pudesse comemorar reunida.


Chegando lá, de imediato já não gostou de tanta gente amontoada, barulho e poluição. Mas os ratinhos estavam muito animados, comendo muitas guloseimas, pensando não haver melhor lugar para se viver, pois nada se compara à fartura da cidade. De repente, ouviram passos, e todos se assustaram, e fugiram. E foi um susto atrás do outro, pois a cidade é muito movimentada.


O avô resolveu então, rapidamente voltar para sua casa no campo, alegando que para ter longevidade não há lugar melhor para viver: sem sustos, sem desgostos, sem atropelo, lá onde reina a tranquilidade.


De fato, não há dúvidas de que uma vida em meio à natureza, respirando ar puro, alimentando-se com o que a terra oferece, no silêncio, e sem a constante urgência que o ritmo na cidade impõe, é muito mais saudável. Provavelmente, vive-se mais e melhor, se houver uma maior qualidade de vida.


No entanto, essa não é a única reflexão que esse texto pode nos trazer. Podemos entender que existem pessoas do campo e pessoas da cidade, com preferências e necessidades diferentes. E mesmo na cidade (ou no campo), cada uma delas vai precisar de um tipo diferente de ambiente. Tem quem goste de casas amplas e espaçosas, tem quem prefira um cantinho pequeno que dá menos trabalho para cuidar, ou ainda quem priorize um apartamento mais seguro. Tem quem gosta de morar sozinho e quem prefere estar em família, ou em um grupo de amigos.


As necessidades individuais são distintas, e o que é bom para um, pode não ser para outro. Para uma pessoa mais urbana, que gosta de passeios culturais, opções diferentes de lazer, gastronomia requintada, pode ser uma tortura permanecer em um ambiente rural, pacato e tedioso dentro da sua percepção. Para outros, o contato com a natureza é fundamental, e o ritmo alucinante da cidade atordoa e adoece.


Existem ainda momentos diferentes na vida: tempo de construir, tempo de relaxar, tempo de estar ativo no mundo com movimentos direcionados para fora, tempo de introspecção, revisão de vida e conexão interna. É preciso reconhecer qual a fase que se está, e se alinhar com o que esse momento pede.


Astrologicamente, o lar (a moradia) é tema da casa IV ou Fundo do Céu. É nesse setor do mapa que identificamos o que precisamos para nos sentirmos em casa, acolhidos e protegidos. Ali também entendemos como vivenciamos isso na infância, qual é a nossa percepção e o conceito que formamos sobre o que é um lar.


Casa IV é o ponto mais escuro da carta astrológica (representa a meia noite), e por isso tem um conteúdo inconsciente importante. Ou seja, nem sempre nos damos conta dos traumas que carregamos com relação a esse tema, e os condicionamentos que eles acabaram por gerar em nós.


Então, não é nada óbvia a relação que temos com o ambiente em que vivemos, e a escolha que fazemos de onde morar pode carregar muitas dessas marcas, não nos permitindo escolher exatamente o lugar que nossa alma mais gostaria de estar. Podemos estar em um local somente com o propósito inconsciente de fugir de outro, ou de ser contrário à família, ou talvez porque temos medo de ir para longe. Pode acontecer o oposto também, e não mudarmos justamente para não ficar longe da família, ou pelo receio do julgamento por parte deles.


Esse é um tema que parece simples, mas não é. O nosso local de origem e as nossas raízes familiares possuem um gigantesco impacto nas escolhas que fazemos (ou que deixamos de fazer), e na sensação de estarmos no lugar certo. Podemos ficar emaranhados nos padrões ancestrais, e não conseguir achar o nosso próprio caminho, o destino indicado pelo ponto oposto, o Meio do Céu.


Para alcançar o zênite do nosso mapa, o ponto mais alto, que representa nossas ambições pessoais, é preciso integrar o nadir, que está diametralmente oposto. Traduzindo, enquanto não se clareia as questões ligadas às origens e se resolve as pendências inconscientes que aí se encontram, não se toma posse do próprio destino. Para a árvore crescer é preciso ter raízes fortes e profundas.


Existem muitos pontos a explorar com relação a esse assunto, mas aqui deixo a sugestão para que olhem para o Fundo do Céu do seu mapa natal Veja o signo que está na cúspide, onde está o planeta regente, quais os aspectos que ele faz, que história ele está contando. Observe se existem planetas dentro da casa IV, se estão em alguma dignidade (ou debilidade), que casas eles regem, que aspectos fazem, que assuntos comandam. É necessário observar todas as conexões, todo esse entrelaçamento, para compreender o que pode haver aí escondido. Quais as suas necessidades? Elas foram satisfeitas? Como foi a sua infância? Qual era a sensação que você tinha da sua casa? O que você pode estar evitando hoje para não abrir uma ferida antiga?


A partir desses questionamentos, é possível que você comece a perceber se está no lugar mais certo para você atualmente, ou se existe um outro local em que você realmente se sentiria “em casa”. O mapa dá indícios claros sobre você ser um rato do campo ou um rato da cidade. E mostra, inclusive, o porquê de você, porventura, não estar no lugar em que sua alma gostaria.

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