Era uma vez um príncipe em busca de sua princesa. Rodou o mundo inteiro e só encontrava com farsantes. Um dia, em meio a um temporal, bate à porta do castelo uma moça, toda molhada e descabelada, pela qual o príncipe imediatamente se encantou. Após recebê-la, a rainha resolve fazer um teste com a moça. Coloca uma ervilha embaixo de uma pilha de colchões onde ela irá pernoitar: se ela perceber a ervilha então certamente tratar-se-á de uma princesa.
Na manhã seguinte, a rainha pergunta como foi a noite, e a moça prontamente responde que foi terrível, pois havia uma coisa muito dura que lhe machucou muito, formando nódoas negras em suas costas. Então a rainha chegou à conclusão de que certamente não se tratava de uma impostora, já que somente uma princesa de verdade poderia ser tão sensível. O príncipe então finalmente pode se casar e colocar fim à sua procura.
Esse conto relata que muitas pessoas que se declaram princesas, vestem-se e comportam-se como tal, na realidade não passam de farsantes. E que às vezes a verdadeira nobreza pode vir em uma aparência discreta, camuflada, muitas vezes até desalinhada, como a moça da história que estava molhada e despenteada pelo vento e pela chuva. É na sutileza que se percebe o refinamento da alma.
Quem tem uma natureza grosseira, muitas vezes não consegue alcançar as nuances mais sutis. Quem não tem inteligência não alcança um raciocínio mais sofisticado. Quem não compreende a natureza intrínseca da vida, não é capaz de ir além.
Poderíamos explorar astrologicamente esse tema de várias formas. Uma delas seria colocando que: quem vê Ascendente, não vê Sol. Indicando o ascendente a maneira como a pessoa se coloca, se manifesta, age e é percebida pelos outros, e representando o Sol a natureza essencial dela, muitas vezes eles não estão em acordo. É exatamente o que diz o ditado: “Quem vê cara, não vê coração”, ou ainda “As aparências enganam”.
Apesar de reconhecermos alguém pelo Ascendente, é o Sol que diz quem ela é de verdade, ou seja, quais os anseios reais que possui. E isso não tem relação com qual é o ascendente, ou seja, qual a forma que a pessoa se utiliza para se movimentar na vida, para abrir seus caminhos, pois ele é a ferramenta utilizada para desempenhar seu papel nesse enredo que é a vida.
A princesa poderia estar em um lindo vestido, em uma roupa molhada ou enrolada em um lençol, que não deixaria de ser uma princesa, assim como uma pessoa sem caráter pode estar coberta de ouro e ainda assim ser sem caráter. A aparência pode ajudar ou atrapalhar, estar em consonância ou em divergência com a realidade, mas não deve ser confundida com ela.
Existe, no entanto, uma outra camada para interpretar, que é a da percepção refinada que uma verdadeira princesa precisa ter. E aqui faço uma menção aos planetas transpessoais (Urano, Netuno e Plutão), que representam oitavas superiores a funções indicadas por planetas pessoais, muitas vezes indicando inclusive percepções extrassensoriais. Urano, por exemplo, é a mente superior, intuitiva, que está além da função lógica, racional e cognitiva representada por Mercúrio.
É muito diferente estar preso a um conhecimento dado por Mercúrio, ou conseguir alcançar aquilo que Urano está mostrando. Para se captar as informações nesse nível é preciso de um outro patamar de apuração e de sensibilidade. É fácil? Claro que não. Em primeiro lugar, é preciso ter a função do planeta pessoal (nesse caso Mercúrio) plenamente desenvolvida para se ter o discernimento necessário para compreender corretamente a mensagem. Além disso, existe um desconforto tremendo na sensibilidade exacerbada, conforme é ilustrado no conto quando a princesa diz que as costas estão machucadas com a ervilha.
Esse é o preço que se paga. Mas para ser uma princesa de verdade é preciso que se desenvolva essa sutileza, essa percepção refinada, para que seja possível comandar os súditos (as outras funções humanas) com justiça e correção. Quanto mais em contato com a mente superior e o amor universal se estiver, melhor se conduzirá a vida. Muda-se de nível.
Por isso, um conto aparentemente simples pode trazer muitas reflexões. Apenas pelas colocações feitas acima, podemos entender que devemos usar nosso ascendente da melhor maneira possível, de acordo com o que ele pede (por signo, aspectos e posicionamento do planeta regente), mas não devemos nunca o confundir com o Sol. E devemos considerar também a importância que alguns transpessoais podem ter em nossa personalidade (aqueles que estão em destaque no nosso mapa) e honrar esses planetas, ou seja, utilizá-los bem.
Nem todos reconhecerão a princesa, mas isso faz parte, porque de fato, só enxerga quem tem olhos para ver. Possivelmente, como na história, só uma rainha para perceber uma princesa, pois quem não desenvolve sua percepção mais refinada, não será capaz de sair do mundo das aparências.
Komentarai