Essa é uma fábula bastante conhecida sobre a cigarra, que vive a vida com leveza e despreocupação, e a diligente e trabalhadora formiga. De uma maneira muito simplista, pode parecer óbvia a moral que essa história quer transmitir, mas vamos aprofundar um pouquinho ilustrando com conceitos astrológicos.
Poderíamos dizer que a cigarra tem uma essência sagitariana, já que gosta de uma festa, música, tocar violão, e principalmente é munida de uma fé inabalável de que tudo vai dar certo, porque tudo já está certo. Isso dá tranquilidade e otimismo porque, se existe a certeza de que a vida é maior que o que se consegue perceber dela, e de que se cada um estiver alinhado com sua própria natureza, as coisas funcionarão e fluirão, então não há o menor motivo para preocupação.
Já a formiga poderia ser virginiana, trabalhadora e metódica, incapaz de se divertir porque precisa estar sempre com a certeza de que está sendo útil. O dever vem sempre antes e a diversão é desperdício de tempo.
Perspectivas diferentes. A vida é assim, cada um possui um filtro para a realidade e por isso existem os conflitos. Não à toa Sagitário e Virgem formam uma quadratura, aspecto tenso, que exige esforço para haver uma conciliação, caso contrário causará verdadeiros tumultos, até guerras, internas ou externas.
Para a formiga, a cigarra é uma inútil, uma vez que não está produzindo nada a que ela atribua valor, pura perda de tempo. Já a cigarra, com um temperamento muito mais filosófico, pode questionar-se sobre o que realmente vale a pena na vida, e pode estar buscando uma conexão maior através da sua música e da sua alegria.
Trabalhar e garantir o sustento da vida material é importante. Encontrar um sentido maior para a existência também é fundamental. Ficar fixado em um desses extremos certamente será prejudicial. Viver na automaticidade, apenas trabalhando para suprir as necessidades físicas, pode levar a um profundo questionamento existencial mais tarde na vida, ao haver a constatação de que toda a energia foi gasta com algo que perecerá. Negligenciar o aspecto material não dará condições para que a alma se manifeste com toda a sua plenitude. Sem um corpo íntegro e saudável, não há possibilidade de desenvolver aspectos mais sutis de nosso ser.
Tem-se um impasse. O inverno chega e evidencia esse conflito, como quando um trânsito ativa uma quadratura. As cartas estão na mesa, e cada um tem seu objetivo. Para haver conciliação é necessário que se saia da obsessão pelo próprio ponto de vista. Cada indivíduo tem uma natureza, que pode se expressar de maneira mais harmoniosa ou mais desequilibrada. Mas, acima de tudo é fundamental perceber que cada um tem um filtro para a realidade.
Não somos iguais, nem na nossa aparência física, nem na maneira de sentir e expressar os sentimentos, tampouco no modo de pensar, comunicar, agir. Mas estamos todos buscando a mesma coisa: evitar o sofrimento e encontrar a felicidade. Por isso, é decisivo perceber que somos iguais nas nossas diferenças. Mais do que isso: cada expressão de individualidade é única e pode acrescentar o seu talento na construção de uma sociedade ideal.
Por isso, essa fábula pode ter um outro final, além da tradicional moral da história de que quem não trabalha durante o verão não garante o sustento para o inverno. Sim, isso é verdade, e é preciso ser introjetado. Mas existe um outro aprendizado, do lado da formiga, que diz respeito a entender que existem outras formas de ser útil e contribuir que podem ser diferentes das dela. E, além disso, que é possível, e necessário, se divertir. Relaxar é fundamental inclusive para a manutenção da saúde, que aliás é mais um tema virginiano.
Antes de tudo é preciso perceber com clareza o que de fato está ocorrendo: se todos estão expressando o melhor de seus talentos, ou se existe alguma distorção. Existe, de fato, muita cigarra folgada, que se acomoda, é irresponsável, hedonista, só pensa no próprio prazer e quer que algo (ou alguém) garanta suas condições de subsistência. Isso não é saudável e muito menos defensável.
Considerando, entretanto, que todos estivessem dentro do mais harmonioso de sua natureza, a fábula poderia se desenrolar de outra maneira. Poderia a formiga permitir-se descansar em alguns momentos, aproveitar a música da cigarra, cantar junto com ela. E a cigarra poderia ajudar a formiga com uma tarefa que não lhe fosse muito monótona e entediante, ou quem sabe até aliviar um pouco a preocupação que a formiga carrega, alegrando-a com sua música, incentivando-a com seu otimismo. E no inverno, todos compartilhariam da comida guardada, comemorando com a música da cigarra a amizade entre seres tão distintos.
Compreender um ponto de vista diferente, longe de ser motivo de conflito, deveria ser tema de aprendizado. Enriquecemos quando incorporamos qualidades distintas em nós, quando nos permitimos sair da zona de conforto, do piloto automático , e explorar maneiras diferentes de viver.
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