Esse conto dos irmãos Grimm, adaptado para o filme “A Princesa e o Sapo”, começa com uma princesa que brica à beira de um poço e derruba sua bola dourada dentro da água. Chorando pela sua perda, é então consolada por um sapo, que garante que trará o mimo de volta caso ela prometa que irá levá-lo para casa, sentar-se com ele à mesa e deixá-lo frequentar seu quarto.
A princesa imediatamente aceita, o que faz com que ele mergulhe e recupere a bola. Mas ela não cumpre com o prometido, e foge correndo, deixando-o para trás. No entanto, no castelo, enquanto todos jantavam, o sapo bate a porta exigindo o cumprimento do acordo. O rei diz que uma princesa precisa honrar a sua palavra e faz com que o sapo entre e sirva-se do jantar. Ela fica indignada, enojada com os modos dele, mas com a anuência do rei, o sapo passa a acompanhá-la em todos os lugares.
No filme, com a convivência e a percepção de que o sapo é sempre gentil, solícito e companheiro, aos poucos a princesa vai reconhecendo o seu valor, sentindo gratidão, até que um dia lhe dá um beijo, e ele imediatamente se torna um príncipe. Na versão original, bem menos romantizada, ela tem tanta raiva do sapo que o atira na parede, e o choque faz com que haja a transformação.
A lição que o filme pretende contar é bem mais explícita, digna de um verdadeiro conto de fadas. A princesa não consegue olhar além das aparências, fica na ilusão de tratar-se de um animal que apenas lhe causa repulsa, é incapaz de reconhecer o valor do sapo. Mas com a convivência, a névoa vai se dissipando, ela começa a sentir afeição por ele, e de repente, após um beijo seu, ele se transforma em um lindo príncipe.
Contos de fada são tipicamente netunianos, podendo ser associados ao signo de Peixes também. A fantasia, o romance, o impossível, estão sempre presentes. Há um estímulo da imaginação, o ideal se torna real em um passe de mágicas. Mas no mundo de Netuno, pode acontecer o inverso também, e a confusão se estabelecer no sentido de a mocinha não reconhecer o herói. A ilusão pode se dar tanto com ela achando que o príncipe é um sapo, como considerando qualquer sapo alguém digno de ser um príncipe.
Quando Netuno está presente, podemos fantasiar para melhorar a situação, colocando óculos cor de rosa e distorcendo a realidade, ou podemos enxergar tudo cinza, sem perceber a beleza que porventura esteja ali presente. Netuno confunde, ilude, dispersa, joga uma cortina de fumaça e perturba o poder de discriminação, de distinguir o certo do errado. Pode-se assumir o papel da vítima, sem que haja a percepção de que foi a própria pessoa que se colocou nesse lugar. Pode acontecer também a identificação com a função de salvador, quando por mais que existam indícios de que uma situação é altamente problemática, não se enxergue a realidade, permanecendo sempre na expectativa de resgatar o outro e modificar todo o contexto.
Quando Netuno está presente como uma marca forte em uma carta natal, pode-se viver um relacionamento abusivo com a contínua esperança de que o outro mude. Ou então viver perdoando e justificando o injustificável por colocar-se em negação frente àquilo que se apresenta. É possível ainda que se viva em meio a lamúrias, lamentando-se da situação sem nada fazer para mudar, simplesmente por não conseguir perceber que há meios de modificar as coisas. Netuno tira a lucidez.
Por outro lado, é possível que aconteça de se estar com uma pessoa maravilhosa ao lado e não haver a clareza para perceber isso. As ideias são direcionadas para algo completamente fora da realidade, e fica-se esperando a chegada de alguém que não existe, e nunca existirá, por pura fantasia. A falta de conexão com a realidade faz com que se perca alguém de valor que está por perto, para alimentar um devaneio.
É extremamente complicado quando existe essa tendência, e quem possui indicativos em seu mapa natal de ter essa propensão deve redobrar a atenção. Existe a possibilidade de estar deixando passar desapercebidamente um verdadeiro príncipe enquanto romantiza-se a vida. Ou pode haver a chance de estar se vivendo uma relação desbalanceada, talvez até perniciosa, por pura incapacidade de enxergar com clareza o que se passa.
No conto original, o simbolismo é ainda mais interessante, pelo fato do sapo tornar-se príncipe após ser atirado na parede. Ou seja, foi necessário um choque, um ato extremo, para que houvesse uma mudança na percepção. Isso também acontece na vida real. Muitas vezes inclusive, só se percebe o príncipe que estava sempre ao lado no momento em que acontece de perdê-lo por alguma razão. Ou então, somente depois de vivenciar uma situação traumática, é que se percebe a verdade de quem estava ao lado.
Netunianos precisam ter muita atenção para fazer com que sua capacidade de fantasiar seja uma aliada e não uma oponente. Cada vez que perceber que está sendo levado pelos seus sonhos, deve colocar um pé na realidade para avaliar se não está esperando por algo que não existe. Cada vez que observar que está se colocando em um papel de vítima, deve olhar para si mesmo e perceber o que o impede de sair dessa situação. Cada vez que tentar justificar algo indefensável, precisa ponderar se não está querendo agir como a salvadora da pessoa em questão.
Pessoas com essas características podem sim utilizá-las a seu favor, criando um clima de romance no relacionamento, embelezando o cotidiano, utilizando sua sensibilidade para acolher as necessidades dos outros. Tudo tem sempre os dois lados, e precisamos estar atentos a qual deles vamos potencializar.
No final da nossa história, a mocinha pode descobrir o príncipe através de um beijo (da sua própria sensibilidade), ou atirando-o na parede (através do trauma). Mas poderia também haver perdido o príncipe para sempre, se não o houvesse reconhecido. Essa seria uma outra possibilidade netuniana. Por isso, netunianos, muita atenção para não deixar passar oportunidades valiosas enquanto mantem-se perdido em devaneios. Lembre que nem tudo é como parece.
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