Apesar de poder parecer óbvio para alguns, esse é um tema que merece uma reflexão mais aprofundada. Que o astrólogo lê e interpreta o movimento no céu e sua correspondência com os acontecimentos aqui na Terra não é novidade para a maioria. Mas qual o tipo de informação que ele pode fornecer não é tão claro assim. Até porque não existe um consenso na forma de leitura de cada profissional.
A astrologia é uma técnica, baseada em observações milenares, e que considera o princípio hermético da correspondência, que diz que o que está em cima é como o que está embaixo. Ela possui conceitos e fundamentos sólidos que precisam ser estudados e compreendidos profundamente para que se faça o uso correto dela. Ou seja, para uma leitura precisa, é necessário seguir regras complexas, desconhecidas da maioria das pessoas que se atêm a conceitos superficiais e acabam fazendo uma interpretação não só incompleta como equivocada. Isso por si só já dá margem a muitas críticas e confusões.
Mas considerando-se que a leitura foi impecável do ponto de vista técnico e conceitual, ainda assim a astrologia é interpretativa, ou seja, tem um componente subjetivo e depende do olhar de quem está interpretando. Daí tem-se que a vivência do astrólogo, sua maturidade psíquica e emocional, seu grau de consciência, vão interferir na sua interpretação, ainda que ele consiga deixar suas crenças pessoais de lado e considere que está fazendo uma leitura imparcial.
A astrologia tem ainda várias linhas que focalizam aspectos específicos. Existe a astrologia mundana que trata de eventos globais, a astrologia mais humanista que enfatiza os aspectos psicológicos do individuo em questão, a horária que é oracular, a eletiva que tem o objetivo de escolher um momento mais adequado para determinado evento. Pode-se ainda fazer a leitura com um olhar voltado para a saúde, para a vocação, para os relacionamentos, para o lado espiritual. As possibilidades são muitas, já que o simbolismo contido nela se aplica a tudo, todas as áreas.
Ou seja, cada astrólogo vai trabalhar de acordo com sua visão de vida, sua área de interesse, seus conhecimentos em outras matérias, e, portanto, sua leitura será única. Cada um direciona seus atendimentos para aquilo que faz sentido para si, por mais que a técnica seja uma só. Há ainda que se considerar que quando se trata de um mapa individual, ele pode ser interpretado infinitas vezes, até pelo mesmo astrólogo, trazendo sempre uma nova luz sobre o assunto abordado. Nós vivenciamos o nosso Mapa Natal desde o nosso nascimento até o final da nossa vida, de maneira muito particular em cada momento, dependendo da nossa maturidade e dos acontecimentos que estão dominando o cenário na época. Por isso a leitura deve ser sempre contextualizada para as condições de vida do consulente para fazer sentido para ele. Não se esgota a informação contida em um mapa, sempre é possível se aprofundar e obter mais conhecimento através dele. Portanto, dizer: "eu já fiz o meu mapa, já sei tudo que tem nele" é uma maneira equivocada de pensar sobre essa ferramenta. Ela é ilimitada nas informações que pode fornecer.
Muitas pessoas vêm até um astrólogo sem saber exatamente o que esperar. Na maior parte das vezes, quando se procura um profissional assim, é porque está se buscando uma orientação porque há dúvidas sobre qual o rumo a seguir. E aqui temos uma linha muito tênue entre uma orientação e uma interferência no caminho alheio. É preciso muito cuidado para que o astrólogo não coloque suas opiniões particulares como um fato dado pelo mapa.
O que o mapa mostra? A paisagem, as tendências, o tipo de clima que se vai encontrar. Quem deve decidir que rumo tomar? A própria pessoa, com seu livre arbítrio. A previsão do tempo diz: "vai chover!"; a pessoa decide se vai de capa, de guarda-chuva, se fica em casa, ou se toma chuva. Não cabe ao astrólogo decidir o que a pessoa deve fazer.
Esse é um ponto que precisa ser enfatizado, até para os próprios astrólogos que muitas vezes não têm essa clareza e acabam se enredando com os destinos alheios. Se o consulente pergunta se deve mudar de país ou ficar onde está, se vai se divorciar ou continuar casado, se essa é a pessoa da sua vida, particularmente a minha resposta é sempre: não sei. O que eu posso dizer é qual é a personalidade da pessoa, o que tende a se manifestar em seu caminho, o que ela vai enfrentar de desafios em cada opção, o que existe de intenção por trás de cada movimento. Mostramos a qualidade da energia, mas quem decide como utilizá-la é a própria pessoa.
Não podemos esquecer que em sua origem a natureza da astrologia é sim preditiva. Ela era utilizada para definir os rumos de uma guerra, antever eventos naturais de relevância, ajudar nas estratégias para conquistar e manter os domínios de um reinado. Era um auxílio para quem estava no comando. Então, sim, prever é o cerne da astrologia. Definir tendências, delinear os direcionamentos, mostrar qual a qualidade da energia em uma determinada faixa de tempo. Mas, quando estamos tratando de um mapa pessoal, a resolução do individuo deve ser sempre priorizada. O astrólogo pode mostrar o que existe por trás de cada escolha, quais as intenções ocultas que levam a determinadas decisões, quais os prováveis desafios que ele encontrará dentro daquele caminho, como lidar melhor com as consequências das suas escolhas, qual o panorama geral para cada cenário que ele cogita. Enfim, existe um potencial enorme de informações e auxílios possíveis, que não são dizer que um caminho é melhor que o outro para o consulente.
No momento em que eu coloco uma ideia na cabeça de alguém, sou corresponsável por ela. Ninguém aqui nesse plano está livre de condicionamentos, crenças limitantes, julgamentos, preconceitos. Somente um mestre iluminado é que tem a visão do Todo, o que naturalmente não é o caso, pelo menos da grande maioria de nós. Portanto, não se sabe o que a alma da pessoa em questão decidiu passar para ter seus aprendizados, e ao interferir nesse caminho estamos assumindo uma responsabilidade que não é nossa, e que terá consequência futura. Às vezes vejo astrólogos, tarólogos, videntes, pessoas que trabalham com os mais diferentes tipos de oráculos, com um certo ar de superioridade, como se fossem conhecedores profundos dos destinos alheios, contentes por perceberem a dependência dos outros em relação aos seus direcionamentos. Isso já mostra o quanto estão longe dessa posição de divindade que querem assumir, indicando um profundo apego a natureza egoica, uma vaidade disfarçada. Essa postura é péssima para todos os envolvidos: para o consulente que jamais deve delegar o seu poder sobre sua vida para quem quer que seja, e para o próprio profissional que interfere no livre arbítrio alheio e será cobrado por isso.
Pode ser muito tentador para o astrólogo querer dar respostas que satisfaçam o cliente, e também muito confortável para o consulente que outra pessoa tire o peso de ter que fazer uma escolha. Quando não se tem uma consciência firme pode-se cair facilmente numa armadilha dessa. O astrólogo tem que ter a humildade de perceber suas próprias limitações em saber avaliar as opções para quem quer que seja e a clareza de qual é o seu papel. O cliente também precisa compreender que é grande o ônus de delegar suas decisões para outra pessoa.
Na nossa sociedade, é muito mais rentável quando se vende a ilusão da resposta pronta, a solução imediata para tudo, o milagre onde a pessoa não precisa se comprometer com nada e tem sua vida resolvida. Mas qual o preço que se paga com isso? Essa é uma questão realmente importante para se pensar. Na minha opinião pessoal, o mau uso da astrologia é uma das maiores contribuições para o descrédito que ela encontra em nossa cultura. Tanto pela falta de qualificação e conhecimento de quem a pratica, como pela maneira superficial e comercial com a qual ela é tratada. Enquanto não se entende com clareza o que essa ferramenta pode trazer de benefícios e qual o papel do astrólogo e de quem está interagindo com ele, corre-se o risco de, além de se estar subutilizando seus inúmeros recursos possíveis, estar se criando uma enorme confusão no próprio caminho.
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