
Um dos mais frequentes argumentos das pessoas que refutam a astrologia é a questão do mapa dos gêmeos, sejam eles irmãos, ou gêmeos astrais (aqueles que nasceram no mesmo local e no mesmo horário, e, portanto, possuem o mesmo mapa). Segundo elas, pessoas tão diferentes com mapas semelhantes, só podem confirmar que a astrologia não funciona.
Vale então esclarecer sobre esse tema.
Quando se trata de irmãos, existe uma pequena diferença no horário de nascimento, que pode ser significativa ou não. Na maior parte dos casos não é, mas em alguns pode ser. Como exemplo podemos citar uma diferença de ascendente. O ascendente anda mais ou menos 1° a cada quatro minutos em latitudes entre os trópicos, e, se, o nascimento acontecer bem na virada do signo, pode acontecer de cada criança possuir um ascendente. Pode ainda acontecer alteração nas cúspides das casas, e consequentemente, nas regências, o que muda toda a leitura. Também a Lua, que é o astro com o movimento mais rápido na astrologia, pode sair da órbita de algum aspecto no mapa de uma das crianças, fazendo com que cada uma tenha tonalidades emocionais específicas. Nos casos mencionados haveriam mudanças significativas no comportamento das crianças. Seja por terem ascendentes diferentes, casas regidas por signos e planetas diferentes, ou ainda, pelos diferentes aspectos da Lua, a interpretação não seria a mesma no caso dos dois irmãos. Não é o objetivo desse texto entrar em detalhes sobre essas considerações, mas apenas ressaltar que gêmeos irmãos podem sim ter mapas com algumas diferenças que justifiquem comportamentos bastante diversos.
Na astrologia védica, de origem hindu, considera-se os mapas divisionais, onde cada signo é dividido em diferentes porções, de 2 a 30, e cada segmento possui uma nuance e uma regência específica. Assim, cada pequena diferença no horário de nascimento, pode impactar em interpretações específicas. Mas a astrologia védica trabalha com um outro tipo de referência (zodíaco sideral) diferente da nossa astrologia ocidental, e, portanto, é uma outra leitura, com outras premissas. Só astrólogos védicos podem fazer uma interpretação apurada nesse caso. Aqui só esclareço que essa linha de astrologia faz a diferenciação entre os gêmeos por aí.
Existem ainda, algumas teorias que tentam resolver esse dilema. Uma delas, por exemplo, leva em consideração a posição que o nenê ocupava dentro da barriga da mãe (em qual hemisfério ele estava), o que pode se deduzir pela ordem de nascimento. Faz-se então uma correlação com o hemisfério astrológico correspondente, e diz-se que os planetas localizados aí terão mais ênfase na vida da pessoa. Isso também poderia dar uma tonalidade um pouco diferente em cada um, embora não justifique grandes questões. Não posso dizer se isso funciona, pois não tenho dados experimentais suficientes. Novamente não é relevante para esse texto entrar na discussão de como esse método opera.
Mas, e no caso dos gêmeos astrais, que possuem exatamente o mesmo mapa natal? E se o mapa de dois irmãos gêmeos não tiver diferenças significativas? O que justifica vidas tão diferentes?
Aqui chegamos ao ponto mais importante desse artigo. O mapa não é a pessoa. Ele descreve um conjunto de possibilidades para seu portador, e, dentro dessas opções, a pessoa escolhe como irá utilizá-lo. Isso está bem descrito no texto Escrito nas Estrelas. Um arquétipo com muitas manifestações possíveis. Urano, por exemplo, é um planeta comprometido com a evolução, com o futuro, e para isso rompe padrões. Por isso um uraniano (alguém com Urano forte no Mapa Natal) pode ser rebelde, excêntrico, visionário, não pode se sentir preso e amarrado, está sempre a frente, tem insights... Essa é a energia... Como a pessoa a utiliza, isso pode variar. Ele pode ser genial, ou rebelde sem causa... Pode ainda ter claustrofobia, ou ser hiperativo... Ter alergias ou insônia... Todas essas manifestações podem acontecer, pois todas tem a mesma raiz: o distanciamento necessário para romper com o velho e estabelecer o novo. Claro que eu estou falando de um exemplo isolado, e no mapa vemos o contexto inteiro, que já dará vários indícios de como a pessoa poderá utilizar. Mas ainda assim existem variações dentro do mesmo tema.
No caso dos gêmeos, existe uma essência que é a mesma. O mapa de ambos busca as mesmas coisas, tem o mesmo tipo de conflito interno, porém adquire uma roupagem diferente para cada um. Para um olhar desatento isso pode passar desapercebido, mas quando se vai mais a fundo compreende-se que, no fundo, as questões são as mesmas. Por exemplo, a raiz comum pode ser a necessidade de se sentir aceito. E, para isso, um pode querer se mostrar o tempo todo, e o outro não conseguir dizer não. Aparentemente são opostos: um exibido e o outro mais retraído. Mas o que está movendo a atitude dos dois é a vontade de ser aceito, o medo de não pertencer. A maneira com que cada um reage a essa necessidade também pode variar. Então, um deles pode aproveitar isso como um talento (a habilidade de agradar) e o outro pode viver frustrado... Tudo depende da consciência da pessoa... Pode parecer que são indivíduos completamente diferentes, mas ao olharmos bem de perto, na alma, perceberemos que as motivações são as mesmas.
Em uma análise superficial, podemos achar que um marinheiro, um músico, um alcoólatra e um místico não têm nada em comum, são completamente diferentes. Mas, sob o olhar da astrologia, todos estão nos domínios do signo de Peixes (do Planeta Netuno, ou da casa 12). Pois todos eles tem a mesma necessidade de fugir da realidade, escapar para um outro mundo...
O que determina como a pessoa vai viver seu mapa? Várias coisas: a hereditariedade, a cultura onde nasceu, os condicionamentos que carrega, as próprias escolhas que ela vai fazendo no decorrer da vida. Fazer o mapa de uma pessoa que nasceu no Brasil não é como de uma nascida na Síria, cada uma tem seu histórico, seu contexto. Mesmo dentro do Brasil, uma pessoa nascida em São Paulo ou no Rio de Janeiro terá vivências e expectativas diferentes daquela nascida no interior do Amazonas, problemas diferentes, anseios diferentes. Também, fazer o mapa para a minha avó seria diferente de fazer para o meu filho. Outra linguagem, outros costumes. Ou seja, o mapa é totalmente individualizado. E, para a leitura fazer sentido e ser bem aproveitada, o consulente deve estar presente, devemos perceber qual a bagagem que ele traz, como está vivendo aquele mapa. E é necessário que o astrólogo tenha, além do domínio da técnica, a capacidade de enxergar o que está por trás das aparências.
Portanto, ainda que os mapas sejam iguaizinhos, e que cada um viva de maneira totalmente distinta do outro, isso não quer dizer que a astrologia falhou. É preciso ter olhos para ver... Ir para a essência, para o centro da questão... Perceber os direcionamentos internos... Que certamente serão similares, embora se mostrem de formas diferentes...
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